ARTIGO | A ligação de Frei Damião com São Joaquim do Monte





Não obstante o carinho do Frade Capuchinho que deixou suas terras para semear o Evangelho do Cristo aos mais simples no Nordeste brasileiro, Frei Damião tinha um carinho especial pela cidade de São Joaquim do Monte, Agreste do Estado e sede de uma das maiores manifestações de fé em sua memória. O lugar onde o religioso se sentia em casa, entre os seus.

As “Santas Missões” anunciadas pelos alto-falantes da Matriz e por carros de som eram uma grande celebração da fé.  Uma música introduzia a cidade no clima de missões:
“Evangelho, filho Luz da multidão.
Deus está contigo, salve Damião!
Deus está contigo, salve Damião!”

Os são-joaquinenses guardavam o melhor em todos aspectos para esse momento. No dia marcado para a chegada do Frei Damião e Frei Fernando, motoristas, motoqueiros, ciclistas e até pessoas a pé esperavam o carro com o frade na cidade de Camocim de São Félix, recepcionando-o com buzinas, vivas e fogos. De pronto, seguiam em cortejo automotivo pelos 10 quilômetros que separa as duas cidades. Sou testemunha desses momentos. Ainda criança, acompanhava com gosto essa procissão de recepção, meditando no magnetismo que Frei Damião exercia nas pessoas, evidentemente por seu testemunho de fé e vida. Ao chegar em São Joaquim do Monte, uma copiosa girândola de foguetões saudava os missionários. Se dirigiam para a Matriz, aos empurrões de uma multidão que queriam apenas tocar, acenar, ter um contato de milésimo de segundo com o Servo de Deus. Os vivas se sucediam na medida que a igreja já pequena era superlotada.

As atividades das missões começavam ainda pela madrugada. O dia sequer tinha dado sinais de amanhecer, o frade saía a passos ligeiros pelas ruas com uma "campa" - uma espécie de sino pequeno". Portas se abriam e pessoas ainda congestionadas pelo sono seguiam o frade. Em poucos minutos, Frei Damião já era acompanhado por uma multidão até a Matriz, onde se rezava o terço, cantava o Ofício de Nossa Senhora e confissões eram ouvidas. Os sermões eram concorridos e, amplificada pelo silêncio reverente, as admoestações do Frade eletrizavam os fiéis, que se viam necessitados de uma conversão urgente. Nas prédicas, alertas para comportamentos, condenação de danças, bebedeiras e outros comportamentos. As missões eram encerradas com uma grande procissão com a imagem de Nossa Senhora das Dores, padroeiras dos romeiros.

A ligação de Frei Damião com São Joaquim do Monte, vem de muito antes da criação da romaria, ainda quando o pároco da cidade era o Monsenhor José Escorel de Araújo. Foi o frei que instituiu a tradição de rezar o Ofício de Nossa Senhora nas madrugadas de maio e foi ele que escolheu o local onde hoje se localiza o Cruzeiro em seu nome e é nele em que está o monumento de 10 metros que homenageia esse ícone da fé católica. 

Frei Damião ladeado por Padre Escorel. Refeições rápidas, para ganhar tempo no Apostolado


Em 1993, quando foi criada a romaria, ele esteve presente pelos 3 primeiros anos, 1993, 1994 e 1995, mas, a frágil saúde de capuchinho o deixou impossibilitado e ele não participou mais, vindo a falecer em 1997, ao 98 anos. Para Frei Damião, a cidade não era somente mais uma de suas missões, era o local de descanso. Dizia ele que São Joaquim do Monte era bastante parecida com a sua terra natal, Bozzano. Entre as verdes serras, Damião se reencontrava com suas origens e deixava um legado de fé para toda a população.

 Na cidade, é fácil ver o nome dele, seja na escola, no frigorífico, no centro de saúde, no nome de uma das avenidas. Assim as marcas daquele homem baixinho, porem grande na importância, vem sendo mantidas.

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